terça-feira, 31 de dezembro de 2013

O teu atlas inescrutável






Diz-lhes que a minha vida foi maravilhosa.

Wittgenstein

Lo inefable (aquello que me parece misterioso y que no me atrevo a expresar) proporciona quizá el trasfondo sobre el cual adquiere significado lo que yo pudiera expresar

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Imponderável Miss Lemmo







A minha amiga americana, um filme em continuo, uma verve interminável, uma cabeça imparável, uma energia quase solar. Conhecemo-nos por causa do 123 faz já muitos anos, quase 10?, queria ela um tipo que filmasse e tivesse câmera para fazer um filme sobre uma personagem única, nesta terra de Portimão...
Em dia de chuva intensa atrasei-me para a répèrage mas fez-se a abordagem à casa dos manequins. A aventura das filmagens continuou até se fazerem 2 filmes, um em formato manta de retalhos (Outside inside the Algarve) e o outro sobre um personagem (Dani). Mais uns tantos prometidos mas por força das circunstâncias não concluídos ou então ficaram em meias-tintas.
A amizade com esta espaventosa cineasta e artista plástica tem tido altos e baixos, desatinos e laudações mas continua sólida. De quando em vez vamos fazer roteiros para o 123. A expensas da filantrópica colaboração, talvez em troca de anúncios, uma promessa de qualquer coisa, um desabafo destes tempos abafados, uma celebração algarvia. Em busca de aventura.
Joan Lemmo fez-se em Nova York e em Hollywood, no imobiliário (vendeu casa ao Stallone por exemplo) e no cinema, como set designer ou pequenos papeis em séries e filmes. Um dia ao visitar o Algarve engraçou-se pelo local e por uma antiga venda,comprou-a e fez dela a sua casa de férias. Sempre foi a todas as possíveis manifestações culturais que apareciam na zona. Ainda hoje com a sua inacreditável independência lá vai ver um filme, uma feira, uma exposição, numa quase frenética actividade. Agora está de partida, farta do atrofio português, precisa de mais mundo.
Desta vez lembrei-me, como ela tinha feito um papel na série dos 60's Bonanza, podíamos experimentar um sítio que é o último reduto dos velhos barracões da Praia da Rocha e descobrir o Pondorosa (Ponderosa é o nome do rancho da série) http://www.imdb.com/title/tt0052451/

Ali antes da rotunda que leva à Praia da Rocha, no sopé da Encosta da Marina, em sítio ensolarado, com um pátio de acolhimento com um par de medronheiros e umas oliveiras, está esta pérola do antigamente e para maior surpresa ainda, tem um restaurante lá dentro e com bom ar. Estávamos um pouco receosos pois não havia ninguém, normalmente vejo por lá turistas, mas fomos logo muito simpaticamente recebidos pela D. Amélia, e pedimos 2 pratos da oferta, um de peixe espada grelhado e outro de febras, bem postos com salada, legumes, arroz e batata e estivemos entretidos a gozar da ambiência. Este mítico barracão com cerca de 30 anos deu-lhe nome um senhor Belga, frequentador assíduo. Depois chegou um casal de irlandeses e em conversa soubemos que ele era canalizador de profissão (agora reformado) e pescador de paixão (sempre no activo) e que conhecia o mundo através da pesca, a maior presa foi uma raia australiana com perto de 50 kilos. Muita coisa mudou desde que pela primeira vez veio a Portimão, onde havia imensos sítios com alma, como este, agora é tudo muito igual e indiferente, não tem muita piada. O peixe é que continua bom.

Sobremesa só fruta ou gelado, agora de Inverno e com a escassez de clientes a variedade (Molotov, pudim, semifrios)  é mais para os jantares, na espaçosa sala de dentro.

Tudo isto é Portugal, este contraste entre a euforia deslavada e o desespero resistente e descontraído, à espera de melhores dias e clientela que queira disfrutar de um inusitado local para descontrair.






Desta vez deu para bater umas fotos melhorzinhas com recurso à camera da Joan e não a amalucada da sobrexposta  Samshunga ou o imprevisivel android.