quinta-feira, 24 de março de 2011

segunda-feira, 14 de março de 2011

Nervuras

DÉLFICA
Conheces tu, Dafné, este cantar de outrora
que junto do sicômoro ou sob os loureiros,
ou mirtos, oliveiras, trémulos salgueiros,
este cantar de amor… que volta sempre e agora?

Reconheces o Templo – peristilo imenso -
e os ácidos limões que teus dentes mordiam,
é a gruta onde imprudentes ébrios se perdiam
e do dragão vencido dorme o semen denso?
Hão-de voltar os deuses que saudosa choras!
O tempo há-de trazer da antiguidade as horas;
a terra estremeceu de um ar de profecia…
Todavia a sibila de rosto latino
adormecida à sombra está de Constantino
e nada perturbou a severa arcaria.

VERSOS DE OURO
Pensando livre, julgas que nenhum outro ente
Pensa num mundo em que tudo jorra a vida?
És livre de dispor da força em ti contida,
Mas do que tu decides é o Universo ausente.
Respeita no animal um espírito agente.
Em cada flor uma alma espera ser sentida.
Um mistério de amor tem nos metais guarida.
Tudo é sensível. Tudo sobre ti potente.
Teme, no muro cego, um olhar que te fita.
A tudo o que é matéria um Verbo está ligado.
Não faças dela nunca uma coisa perjura.
Num ser obscuro às vezes há um deus que habita.
E, como um olho nasce em pálpebras fechado,
Sob as rugas das pedras uma alma se apura.
Gérard de Nerval

sexta-feira, 4 de março de 2011

Portugal - retrato similar





O Parchal é uma freguesia portuguesa do concelho de Lagoa, com 4,5 km² de área e 3378 habitantes (2001). Densidade: 750,7 h/km².

Esta freguesia serve como "cidade dormitório" de Portimão, uma vez que grande parte da população laboral da cidade afasta-se da grande metrópole escolhendo as terras vizinhas para habitar. O Parchal, devido à sua grande proximidade de Portimão, foi uma das freguesias eleitas, multiplicando grandemente a sua expansão desde o 25 de Abril.

Foi elevada a vila em 12 de Julho de 2001.

História

Situada na margem esquerda do Rio Arade e desanexada de Estômbar em 20 de Junho de 1997, a freguesia do Parchal é a mais recente do concelho de Lagoa estendendo-se por uma área de 4,5 quilómetros quadrados.

O topónimo Parchal parece derivar de Parchel ou Praxel, nome que designava o antigo convento Franciscano situado na vizinha povoação do Calvário, na freguesia de Estômbar. O vocábulo Praxel, que advém do árabe, significa lugar alagado ou alagadiço, precisamente como se encontravam as terras do Parchal nas suas origens, constantemente invadidas pelas marés do Rio Arade. Mas antes da actual designação, foi também conhecida por Aldeia dos Cucos, numa referencia popular à família Cuco, uma das primeiras a instalar-se no Parchal.

A agricultura rudimentar e familiar primeiro, e a pesca e a indústria conserveira depois, foram os pólos de atracção para a criação de um primeiro núcleo habitacional localizado defronte a Portimão e ligado a esta urbe pela então, nova ponte do Rio Arade. No apogeu da actividade piscatória e da indústria conserveira, instalaram - se no território que corresponde actualmente à freguesia, diversas fábricas que representavam emprego e atraíam cada vez mais gente ao local. Quando em meados da década de 70, a indústria conserveira entrou em declínio, o Parchal era já um espaço habitacional consolidado, com forte ligação a Portimão, onde considerável parte da sua população desempenhava actividades ligadas à pesca, ao comércio e serviços.

Entretanto, a Revolução de Abril de 1974, trazia novos ventos, novas perspectivas e exigências, de entre elas, o direito à habitação digna e de acordo com as necessidades das famílias. Em consequência disso, um grupo de Parchalenses trouxe para o Parchal, um núcleo da então criada em Lagoa, Cooperativa de Habitação Económica Lagoense, que viria a ter um papel fundamental no desenvolvimento urbanístico e económico que o Parchal conhece hoje.

A criação da freguesia em Junho de 1997 e a elevação à categoria de vila em Abril de 2001 foram o justo reconhecimento do extraordinário desenvolvimento e de todas as potencialidades e perspectivas que se abrem ao Parchal.

Teve como marcador desportivo o clube de futebol Sociedade Recreativa Boa União Parchalense, extinto em 2006.

Povoações

Pavilhão Desportivo Prof. Manuel Ferraz, nas imediações da Escola E.B. 2/3 Rio Arade, no ParchalBela Vista
Pateiro

Associações e Colectividades

Sociedade Recreativa Boa União Parchalense
Associação Cultural e Desportiva da CHE - Lagoense

Principais Equipamentos Colectivos

Pavilhão do Arade, ParchalIgreja do Parchal ou Igreja de São Francisco de Assis
Escola Primária do Parchal
Escola E.B. 2/3 Rio Arade
Porto de Pesca
Pavilhão do Arade
Pavilhão Prof. Manuel Ferraz
Estação da CP Ferragudo - Parchal

Artesanato

Miniaturas de carroças algarvias;
Pinturas em azulejo;
Rendas;
Doçaria Regional.

Actividades Económicas

Piscicultura;
Pesca;
Pequena indústria;
Construção Civil;
Comércio e extração de bivalves.

Gastronomia

Caldeirada de peixe à Pescador;
Carapaus alimados;
Feijoada de Búzinas (Búzios);
Feijoada De Polvo;
Ameijoas na cataplana;
Papas de milho com berbigão ou conquilha;
Sardinha Assada;
Frango Grelhado.

quarta-feira, 2 de março de 2011

Expressão sem ficção









Fala-me de joules e de romances em que o cordel destape a letra dourada, explode sensações carentes de flores adianta sombras para que as tenha um pouco mais de pouco tempo nas mãos ainda ágeis, deixa-me perseguir um elo raiado que sonhei enquanto me escrevia e lidava com a minha ignorância desligada ou mole. Fala-me de desenhos e desdém onde queiram ainda queimar os olhos com prazeres ocultos, exangues moralmente, finos ao trato, por desvelo, sintéticos na fase jurídica e leves na pena de deixar coisa que se imprima. E no topo da página onde me revelás-te coloca uma pequena ligação a uma música que nunca ouviste.

terça-feira, 1 de março de 2011

Na pégada de um gato






A maior das maravilhas é viver

mas não me empurrem para a vida
sem que eu queira. Não me dispam,
não me vistam, não me lavem sem
que me apeteça. E não dêem números
às almas, às coisas que são mais importantes,
não atribuam um número à esperança,
outro à minha angústia e outro à liberdade,
ou um só número para tudo o que sou
e para tudo o que sinto. Um número
tatuado na pele humana da notável
condição de ser pensante. Não afoguem
a água. Não aqueçam o sol. A maior
das melhores maravilhas é viver
sem profissionais do empurrão. Os que esperam
lucrar alguma coisa com a queda, chegar-se
à frente no gabinete das soluções precárias.
Não quero que me convidem nem me impeçam
de viver como gosto, como quero, como espero,
ou de outra forma qualquer. Não se ponham
na minha frente, nem me empurrem.
Deixem-me caminhar como eu quiser,
se eu quiser. Deixem-me pensar como eu
quiser, se eu quiser. Deixem-me, apenas.
Não me segurem. Quero escolher.
Quero ser o que bem me apetecer!
Formidável, amável, doente, diferente
ou indiferente. Permitam-me que escolha,
que faça apenas o que me der na bolha,
que diga porra!, basta!, vão-se embora!
e deixem-me ficar. Quero permanecer
caído, traído, vencido, emparedado,
ou sacudir de vez a água das traições
e ferrar o dente na mentira, gritar se fôr
preciso. Mas fazer doer quando morder.
Não me toquem, não me abracem, não me finjam
sentimentos. Há momentos que não posso suportar.
Deixem-me ser como o mar, como o deserto:
ser perto ao longe e longe ao perto. Ou ser,
apenas ser. O que eu for capaz, afinal, o que eu
quiser, porque quero, porque posso, porque
de nada serve querer mudar-me. Não me toquem
como se eu fosse uma bola de cristal, uma
cobra, uma barata, uma coisa, um animal.
Deixem-me estar sozinho. Assim, sozinho,
tão sozinho que não precise de ninguém,
muito menos de quem se sente no direito
de empurrar. Ou impedir. Não me façam
um dos vossos, um previsível, um sensível
à rotina das esperadas pulsações. Não quero
dar, nem quero que me dêem soluções. Nem
sequer convosco conversar ou fazer parte
seja do que for. Retirem-se. Retirem-me
a vergonha de me estar a transformar
no que é pior que tudo e eu não mereço:
no número 103 420 894. Por favor,
é isso, só isso, que vos peço. "


Joaquim Pessoa