segunda-feira, 14 de março de 2011

Nervuras

DÉLFICA
Conheces tu, Dafné, este cantar de outrora
que junto do sicômoro ou sob os loureiros,
ou mirtos, oliveiras, trémulos salgueiros,
este cantar de amor… que volta sempre e agora?

Reconheces o Templo – peristilo imenso -
e os ácidos limões que teus dentes mordiam,
é a gruta onde imprudentes ébrios se perdiam
e do dragão vencido dorme o semen denso?
Hão-de voltar os deuses que saudosa choras!
O tempo há-de trazer da antiguidade as horas;
a terra estremeceu de um ar de profecia…
Todavia a sibila de rosto latino
adormecida à sombra está de Constantino
e nada perturbou a severa arcaria.

VERSOS DE OURO
Pensando livre, julgas que nenhum outro ente
Pensa num mundo em que tudo jorra a vida?
És livre de dispor da força em ti contida,
Mas do que tu decides é o Universo ausente.
Respeita no animal um espírito agente.
Em cada flor uma alma espera ser sentida.
Um mistério de amor tem nos metais guarida.
Tudo é sensível. Tudo sobre ti potente.
Teme, no muro cego, um olhar que te fita.
A tudo o que é matéria um Verbo está ligado.
Não faças dela nunca uma coisa perjura.
Num ser obscuro às vezes há um deus que habita.
E, como um olho nasce em pálpebras fechado,
Sob as rugas das pedras uma alma se apura.
Gérard de Nerval

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