segunda-feira, 6 de junho de 2011

O martirio do camartelo







Parábola do calhau que cresce: "Não gostava daquela pedra, e enterrou-a no jardim. Mas aquela pedra cresceu. Aumentou e ficou maior que a casa dele. Fazia-lhe sombra e secou tudo à volta. Tentou olhá-la sem rancor. Diminuiu. Assumiu o tamanho de uma mão e foi esquecida."

Desde a separação, o arquitecto nunca mais a olhou de frente, embora trabalhassem juntos. Um dia, os olhares apanharam-se indirectamente num espelho. Fecharam os olhos e mandaram-se um beijo. Ele construiu uma casa de espelhos e pediu-lhe para viver com ele.

Distraído, olhando a cidade, Lizarede saboreava aquele travo
amargo de loucura como se se tratasse de um cigarro. Às vezes, tinha
visões. Então, sacudia a cabeça como um gato ensonado e voltava a
fixar, de olhos bem abertos, as pessoas que corriam apressadas sob
a vigilância das luzes. Foi dessa vez que a cigana lhe disse que ele viveria até sempre.

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