segunda-feira, 18 de julho de 2011

Casa jazente






“Uma gestão tecnicamente melhor formada, mais descentralizada e mais transparente”: é desta forma que Álvaro Domingues, geógrafo, professor na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, perspectiva o futuro ideal da gestão autárquica no que respeita à paisagem e ao ambiente urbano. Isto sobretudo quando é bem presente a crítica do especialista à ausência do tema “paisagem nos planos de ordenamento” regionais e municipais.

Também a burocracia que envolve toda a política da gestão da paisagem em Portugal é alvo das críticas de Álvaro Domingues, que a considera excessivamente regulada e pouco “transparente”. E é nesse sentido que o especialista a gostaria de ver mais simplificada e “menos enredada em tutelas”.

Já em termos “da gestão dos processos bio-físicos”, o professor aponta como “prioritária a gestão da água e da floresta”, referindo-se igualmente à importância dos “lugares comuns onde passamos todos os dias – ruas, estradas, auto-estradas…”. Aí, afirma, “gostaria que se premiasse o conforto e as galerias de árvores sobre as vias”.

Sobre este último aspecto mais 'decorativo' da paisagem, Álvaro Domingues explica o seu ponto de vista, exemplificando-o com um programa francês denominado “Os Jardineiros da Paisagem”: “[O Estado] pagava a funcionários que mantinham certas fisionomias de paisagens (normalmente rurais e já sem os que as produziram ou mantiveram) para manter a felicidade e o interesse do turista”.


Paisagem é um ‘conceito-esponja’

Contudo, e apesar da objectividade das suas críticas, para Álvaro Domingues, a gestão da paisagem é tudo menos um conceito simples e objectivo. Pelo contrário, o especialista refere-se ao termo como “instável” e “contraditório”, em virtude de resultar do “ registo visual da sociedade que muda”, e dessa forma corresponder a um “objecto de uma pluralidade enorme de discursos e de práticas”.

“Como construção cultural – para quem vê ou para quem dá a ver –, paisagem presta-se a inúmeros relatos e interpretações”, defende. Por outro lado, o geógrafo considera a paisagem um ‘conceito-esponja’: “Quase tudo pode ser figurado em termos de paisagem, e o inverso também é verdade”, diz.

No entanto, Álvaro Domingues, que considera estar “bastante mal a nossa construção identitária”, não deixa as responsabilidades apenas em mãos autárquicas: o resultado final de uma paisagem urbana depende, sim, de todos os cidadãos. “Os fazedores de paisagem somos todos nós, desde quem projecta e faz auto-estradas, a quem pinta a casa de amarelo”, repara.

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