sábado, 28 de abril de 2012

Valdemar -.o regresso do herói

Esta coisa dos blogues, para nós que não somos nem de perto nem de longe gurus de seja o que for, nem sequer profundos amadores, nem temos nenhum chamamento especial, temos assim  uns tiques de vício, umas réstias de vontade de edição independente, uns laivos de liberdade temática, um sentido de pasquim pessoalíssimo...  Para além de um cultivado anonimato, de um tom de caçador solitário, existe uma cartilagem de diminuição das possibilidades, há sempre alguma espécie de traição a armadilhar o post: ou a fraca desenvoltura linguística, ou percalços da memória, ou ainda maus comportamentos da câmara de serviço (aqui vai ser o caso). Não deixa de ser um scrap log onde podem elevar-se esboços de personagens, lugares, esperanças e desesperos.
Ora estava eu a regressar a casa com o meu filho, dei de caras com um velho conhecido, de o ver por aí na cidade com dois bonecos (artesanato) feitos por ele, e há procura de clientes. Fiquei a saber que foi combatente em Angola, incorporou em 69, foi para lá com 18 anos e passou lá 5, viu muita pessegada, quando voltou, a fábrica Feu, onde antes tinha trabalhado como carpinteiro marítimo, tinha acabado. Da geração de "manos" que foram para a guerra na altura dele poucos voltaram, eram emboscados constantemente, os últimos da fila, quase invariavelmente, ficavam, era a ancestral lei da selva. Pergunta-se retóricamente - para quê? Agora com 59 anos, recebe uma pensão de 200€, usando o seu apurado instinto de sobrevivência  faz os toscos mas inspirados artesanatos em madeira para compor o mês. O Valdemar tinha estado preso, ninguém lhe fazia a folha, muito menos polícias, para além disso estava sempre pronto para defender os mais fracos. Hoje tinha para venda um barbeiro e seu cliente em cadeira giratória e um barco de recreio com uns tocadores de viola, o meu filho escolheu o barco.





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